Entre regras e redes, quando o esporte ensina o Direito


A linha que separa o esporte do Direito é, muitas vezes, mais tênue do que se imagina. Ambas as áreas se constroem sobre princípios comuns — justiça, ética, respeito e disciplina. Minha trajetória, que começou aos 12 anos em um projeto social de vôlei e hoje se desenvolve na Defensoria Pública e na docência em Direito, é a prova de que a quadra e o tribunal compartilham o mesmo espírito de transformação humana.

O esporte foi minha primeira escola de direitos humanos. Dentro de uma equipe, aprendemos que todos merecem espaço, voz e respeito. As vitórias não se constroem sozinhas, mas com base na solidariedade e na confiança mútua — valores fundamentais também para quem defende o acesso à justiça. Quando um atleta é acolhido por um projeto social, o que está em jogo não é apenas o desempenho físico, mas o exercício pleno de sua cidadania.

A transição do esporte para o Direito começou a se desenhar após o nascimento do meu primeiro filho. A derrota na final da Superliga, em 1998, me fez refletir sobre o tempo e os ciclos que se encerram. Voltar a estudar foi um desafio imenso, mas também um reencontro com o propósito. No Direito, encontrei um novo espaço para aplicar o que o vôlei me ensinou: resiliência, preparação e coragem para tomar decisões sob pressão.

Hoje, ao atuar na Defensoria Pública, vejo que o Direito, assim como o esporte, é um campo de inclusão. Ambos buscam corrigir desigualdades e promover dignidade. Quando defendo pessoas em situação de vulnerabilidade — muitas vezes migrantes ou indivíduos excluídos socialmente — reconheço no olhar delas a mesma esperança que vi em jovens atletas que buscavam no esporte uma chance de reescrever suas histórias.

Nas salas de aula, lecionando disciplinas como Direitos Humanos e Gestão Esportiva, percebo que o esporte oferece lições profundas sobre justiça e equidade. Ele ensina que regras não existem para limitar, mas para garantir a convivência e a competição justa. Assim também é o Direito: um campo que, quando praticado com ética e empatia, transforma realidades.

A experiência mostra que políticas públicas voltadas à transição de carreira de atletas são indispensáveis. Elas devem garantir apoio psicológico, qualificação e oportunidades para que o talento e a disciplina cultivados nos treinos sejam convertidos em novas conquistas. A trajetória esportiva não termina quando o atleta deixa a quadra — ela se transforma em base sólida para novos voos.

Hoje, ao olhar para trás, vejo que a essência do meu percurso está na coerência entre dois mundos. O esporte me ensinou a lutar com justiça; o Direito me permite transformar essa luta em serviço. Entre redes e leis, encontrei um mesmo ideal: o de promover dignidade, inclusão e oportunidades. Porque, no fim das contas, tanto no esporte quanto no Direito, o jogo só vale quando é justo.

*Adriano Cristian Souza Carneiro é Defensor Público Federal, Professor de Direito e Gestão Esportiva. Formado em Direito, Educação Física e Mestrando em Direito, ex - atleta profissional de voleibol, técnico nível 3 de voleibol de quadra e praia.

 Adriano Cristian Souza Carneiro


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