Escolas bilíngues deixam de lado o currículo brasileiro?

Veja mitos e verdades sobre essa modalidade de ensino
Bilinguismo proporciona crescimento pessoal e profissional, além de expandir os horizontes globais de crianças e adolescentes


O ensino bilíngue tem crescido no Brasil, refletindo a importância que as famílias brasileiras têm dado ao aprendizado de um segundo idioma, principalmente o inglês, como uma ferramenta essencial para o sucesso acadêmico e profissional no mundo globalizado. Mas a atenção e o interesse por essa modalidade de ensino também geram dúvidas. Afinal, trata-se apenas de aprender inglês? O português fica em segundo plano? Crianças podem confundir as línguas?

Para esclarecer os principais pontos e orientar pais que estão em dúvida se essa modalidade é adequada para seus filhos, educadores elencam, a seguir, quatro mitos e verdades sobre a educação bilíngue.

1. Mito: o currículo nacional fica prejudicado

Um receio comum das famílias é que o português seja prejudicado pelo contato intenso com uma segunda língua. Na prática, o que ocorre é o contrário: a base em língua materna é fortalecida, já que todo o aprendizado depende de um domínio sólido do português. As escolas bilíngues estruturam seus currículos para que os dois idiomas sejam desenvolvidos de forma equilibrada e complementar. Isso garante que o estudante não só domine o inglês, mas também se torne um leitor e escritor competente em português.

“Nosso compromisso é formar alunos bilíngues de verdade. A alfabetização é feita de forma concomitante, em português e inglês, e depois de alfabetizadas, as crianças têm aulas das disciplinas regulares, como a matemática, em inglês. Dessa forma, asseguramos que a fluência e o aprendizado sejam efetivos nas duas línguas, preservando ainda a identidade cultural do estudante”, explica Eloísa Monteiro, coordenadora pedagógica da Escola Bilíngue Aubrick (São Paulo/SP).

2. Verdade: a infância é o melhor período para aprender um idioma

A ideia de que o contato com dois idiomas pode confundir ou atrasar o desenvolvimento linguístico das crianças é um dos mitos mais persistentes sobre o bilinguismo. Pesquisas e especialistas em educação apontam que quanto mais cedo a criança é exposta a uma segunda língua, mais natural e efetivo se torna o aprendizado. Essa vivência, ao invés de confundir, estimula a atenção, a capacidade de concentração e até a consciência sobre como as línguas funcionam.

“É nessa fase que o cérebro tem maior plasticidade, tornando o aprendizado mais intuitivo e duradouro. As crianças distinguem os códigos com menos esforço e acabam se tornando mais conscientes da linguagem em ambas as línguas. Esse processo as ajuda a compreender melhor estruturas gramaticais e a se expressar de maneira mais precisa”, diz Beatriz Martins, coordenadora pedagógica do Brazilian International School – BIS (São Paulo/SP).

Ela afirma ainda que o bilinguismo favorece o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Ao conviver com culturas, valores e formas de pensar diferentes, a criança aprende a respeitar diferenças, a valorizar a colaboração e a desenvolver empatia.

“Transitar entre culturas e línguas amplia a sensibilidade dos estudantes, que se tornam mais tolerantes, criativos e resilientes diante de novos desafios. Essas competências são fundamentais em um mercado de trabalho que exige não só conhecimento técnico, mas também capacidade de relacionamento e liderança”, acrescenta.

3. Mito: ensino bilíngue é igual a curso de inglês

Muitas pessoas ainda confundem ensino bilíngue com curso de idiomas. Mas a diferença é significativa: em uma escola de inglês, a criança aprende a língua em aulas específicas, durante três horas de aulas semanais, em média. Já no ensino bilíngue, disciplinas como ciências, matemática e artes são lecionadas também em inglês, em um contexto pedagógico completo e com uma carga horária que pode chegar a quatro horas diárias.

“No curso de idiomas, o aluno aprende gramática e vocabulário. Já o modelo da escola bilíngue cria situações reais de aprendizagem, em que a segunda língua é um instrumento para compreender conteúdos, e não apenas um fim em si. Em uma proposta de ensino bilíngue, o aluno vive a língua em experiências reais de interação. Sendo assim, o uso da língua em suas formas, oral, escrita e de leitura, está a serviço da aprendizagem de conteúdos, ou seja, a segunda língua também é língua de instrução, assim como a língua materna, possibilitando melhores conexões e aprofundamento dos temas estudados”, pontua Jacqueline Cappellano, coordenadora pedagógica da Escola Internacional de Alphaville – EIA (Barueri/SP).

4. Mito: escola bilíngue só vale a pena para quem quer estudar fora

A educação bilíngue facilita o ingresso em universidades estrangeiras, mas esse não é o único objetivo da modalidade. Os ganhos se estendem ao dia a dia, permitindo que os alunos acessem informações em diferentes idiomas, participem de iniciativas multiculturais e ampliem suas perspectivas de carreira, inclusive no Brasil. Assim, famílias que não planejam enviar os filhos para estudar fora também podem se beneficiar enormemente dessa escolha.

“O bilinguismo não é apenas um passaporte para estudar no exterior, mas uma ferramenta de vida que abre portas também dentro do nosso país. Além de falar inglês, o aluno aprende a lidar com a diversidade, a dialogar com diferentes culturas e a se posicionar como cidadão global”, afirma Renata Noriega, coordenadora bilíngue do colégio Progresso Bilíngue (Indaiatuba/SP).

Em um mundo cada vez mais conectado, o bilinguismo deixa de ser apenas uma vantagem curricular para se tornar um requisito de cidadania. Ao formar-se no ensino básico em duas línguas, o estudante é exposto a perspectivas diferentes, amplia sua visão de mundo e desenvolve autonomia para participar de projetos internacionais, competições acadêmicas e intercâmbios culturais. “Essa vivência prepara os jovens para interagir com naturalidade em contextos globais, tanto no ambiente acadêmico quanto no profissional”, finaliza Renata.

As especialistas

Beatriz Martins é uma educadora inquieta, apaixonada por gente e por transformação. Atua há mais de 30 anos na educação, sendo 18 deles na liderança pedagógica, formando times, projetos e, principalmente, pessoas. Possui licenciatura plena pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-graduação pelo Instituto Singularidades. Atualmente é coordenadora pedagógica no Brazilian International School (BIS).

Eloisa Monteiro é pedagoga bilíngue, especializada em infâncias e apaixonada pelo desenvolvimento dos primeiros anos de vida. Seu olhar atento para a alfabetização em duas línguas e para as nuances do ensino bilíngue reflete seu compromisso em proporcionar experiências significativas às crianças. Coordenadora dedicada, Eloisa valoriza cada interação com os pequenos e suas famílias, acreditando que o acolhimento é a base para uma aprendizagem segura e afetiva. Para ela, a educação vai muito além do ensino — é um espaço de encontros, descobertas e construção de vínculos.

Jacqueline Cappellano é pedagoga, pós-graduada em Bilinguismo e coordenadora da Educação Infantil da Escola Internacional de Alphaville. É uma grande entusiasta da Educação Bilíngue e fascinada pelo universo da educação infantil. Enxerga no intercâmbio entre ideias e culturas, um caminho para a paz entre os povos.

Renata Noriega atua na área de educação há mais de 30 anos. Formada em Magistério e em Pedagogia, com pós graduação em Metodologias Ativas e curso de Extensão em Educação Bilíngue. Foi professora alfabetizadora por 8 anos mas, encontrou na Língua Inglesa seu maior objetivo na Educação. Já atuou como coordenadora de inglês em escolas de idiomas e desde 2008 está imersa na educação bilíngue, iniciando com pequenos projetos, atuando em propostas de cursos de inglês extracurriculares e programas bilíngues na grade curricular. Renata é coordenadora Bilíngue na Educação Infantil e nos Anos Iniciais no Colégio Progresso de Indaiatuba desde 2012 e esse ano assumiu o pilar de Multilinguismo (conhecimento de mais de uma língua, por um mesmo falante).
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