Em seu último discurso público como Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi critica o impacto devastador dos cortes na ajuda humanitária e defende o direito de buscar proteção internacional pelas pessoas forçadas a fugir.
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Filippo Grandi conclamou seus colegas humanitários após um ano de enormes desafios e cortes financeiros, afirmando que a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) não se deixaria abalar, apesar de ter sofrido um “golpe brutal e direto”.
Em seu último discurso público como Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, antes do término de seu mandato em 31 de dezembro, Grandi criticou duramente os “cortes abruptos e profundos de financiamento e as dificuldades que eles causaram em todo o mundo”, acrescentando que “ninguém pode nos dizer que eles não causaram perda de vidas. Eles já causaram perda de vidas.”
Falando no último dia da Revisão de Progresso do Fórum Global sobre Refugiados (GRF), realizada em Genebra esta semana, ele também fez uma comovente defesa da instituição do asilo e do sistema de proteção internacional para pessoas forçadas a fugir da guerra e da perseguição.
“Conflitos e violações dos direitos humanos continuam sendo os principais fatores de deslocamento”, disse. “Essas pessoas (afetadas) precisam ter espaço para proteção internacional”, afirmou.
“Mas sabemos muito bem… que os riscos de erosão da proteção aos refugiados existem, então precisamos do apoio de todos – de atores religiosos, da sociedade civil, de organizações lideradas por pessoas refugiadas, de pessoas com experiência vivenciada (de deslocamento). Precisamos construir essa defesa a partir de todos os ângulos”. Embora a Convenção de Refugiados de 1951 tenha sido elaborada e adotada pelos Estados, “a instituição do asilo pertence a todos. Cabe a todos nós defendê-la e protegê-la”.
Ele também se manifestou em defesa das Nações Unidas, que trabalham para proteger e apoiar aqueles “que a história marginalizou”, incluindo as pessoas forçadamente deslocados. “A ONU foi criada para as pessoas que ficam para trás”, disse ele. “Por elas, a ONU precisa ser apoiada.”
Referindo-se aos cortes drásticos sofridos pelo ACNUR e pelo setor humanitário como um todo ao longo de 2025, Grandi reconheceu que foi um ano extremamente difícil. Mas acrescentou: “sei que estamos todos unidos em nossa determinação de continuar nosso trabalho. Não apenas nosso trabalho de prestação de ajuda, mas nosso trabalho em prol da justiça, dos direitos, da proteção. Isso não podemos enfraquecer.”
A Revisão do Progresso – organizada em conjunto pelo ACNUR e pela Suíça, sendo co-organizada pela Colômbia, França, Japão, Jordânia e Uganda – reuniu cerca de 1.500 participantes de quase 150 países. Mais de 250 refugiados e outras pessoas com experiência de deslocamento e apatridia participaram, assim como diversas organizações lideradas por refugiados.
Durante a sessão de encerramento, Majdi Laktinah, da Síria, que vive na Alemanha desde 2012 e foi membro da delegação oficial do governo alemão no evento, incentivou os participantes a se concentrarem nos desenvolvimentos positivos dos últimos anos, citando o exemplo do fortalecimento da participação institucional de refugiados na Alemanha.
“Desde o último Fórum Global sobre Refugiados (em 2023), muitas mudanças significativas ocorreram no mundo, e estas tiveram um impacto imenso sobre os refugiados, os deslocados internos e as equipes e sistemas que os apoiam”, afirmou. “Gostaria de dedicar um momento para destacar os raios de sol que conseguiram atravessar este ambiente conturbado.”
Embora não tenha sido um evento de promessas de apoio integral, mais de 30 novos compromissos foram anunciados por representantes de governos, ONGs, empresas, fundações, sociedade civil, entidades esportivas e organizações religiosas e lideradas por refugiados. O próximo Fórum Global sobre Refugiados está previsto para 2027.
Falando em nome dos coorganizadores e coanfitriões, Atsuyuki Oike, representante permanente do Japão junto à ONU em Genebra, elogiou aqueles que apresentaram novas promessas de apoio durante os três dias da Revisão, bem como o progresso na inclusão de refugiados, financiamento inovador e outras áreas.
Mas alertou: “desafios profundos, incluindo uma lacuna de recursos cada vez maior, ameaçam reverter os ganhos que tanto nos esforçamos para alcançar. Esta Revisão de Progresso do GRF foi, portanto, um lembrete sóbrio, porém motivador, de que a ambição deve ser acompanhada de ação.”
Em seu discurso, Grandi também elogiou o trabalho “extremamente valioso” da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), órgão responsável pelos refugiados palestinos, que ele liderou antes de se tornar chefe do ACNUR. “Quero aproveitar esta oportunidade para... enviar nossos pensamentos aos nossos colegas da UNRWA, às famílias daqueles que foram mortos, juntamente com milhares de palestinos”, disse ele, em referência à recente violência em Gaza.
“Os refugiados palestinos fazem parte da comunidade global de refugiados. Minha esperança é pela paz em Gaza, na Cisjordânia e em Israel.”
As palavras de despedida do Alto Comissário cessante aos seus colegas do ACNUR e a todos aqueles que trabalham como humanitários foram: “independentemente do que façam ou de quem sejam, não subestimem o poder que vocês têm para mudar as coisas para melhor e tornar a vida mais esperançosa para milhões de pessoas”.
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