Análise do Prof. Dr. João Alfredo Nyegray - Professor de Negócios Internacionais e Geopolítica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

Na madrugada do dia 13 de junho, Israel realizou uma série de ataques coordenados contra instalações militares e nucleares no Irã, incluindo a usina de Natanz, centro nevrálgico do programa de enriquecimento de urânio iraniano. A ofensiva, sem a participação formal dos Estados Unidos, marca uma escalada perigosa na já delicada geopolítica do Oriente Médio e tem implicações para a estabilidade global — inclusive para o Brasil.
1. Volatilidade do preço do petróleo e seus reflexos no Brasil
O Irã é um dos principais atores do mercado de petróleo no mundo, localizado em uma das regiões mais sensíveis da infraestrutura energética global: o Estreito de Ormuz. Com a possibilidade concreta de o Irã retaliar bloqueando parcialmente esse canal estratégico — por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial — os preços globais do barril já começaram a subir.
Para o Brasil, isso tem efeitos imediatos:
•Aumento dos custos de produção: o país ainda é altamente dependente de combustíveis fósseis para o transporte de cargas e produção industrial.
•Pressão inflacionária: o aumento dos preços da gasolina e do diesel impacta diretamente a cadeia logística e o preço final dos alimentos.
•Reajuste na política de preços da Petrobras: historicamente atrelada ao mercado internacional, a estatal pode ser forçada a promover reajustes sucessivos, alimentando tensões políticas e econômicas.
2. Impactos sobre o agronegócio paranaense
O estado do Paraná, um dos principais polos do agronegócio brasileiro, pode ser diretamente afetado por dois fatores:
•Insumos agrícolas mais caros: a elevação do preço do petróleo influencia no custo de fertilizantes, defensivos agrícolas e transporte. Vale lembrar que o Irã também é fornecedor de ureia, insumo essencial para a agricultura brasileira. Caso Teerã opte por represálias comerciais ou enfrente sanções mais duras, haverá ruptura no fornecimento e aumento de custos para o produtor rural.
•Mercados internacionais mais instáveis: os países árabes e islâmicos são importantes compradores de carne de frango e bovina do Brasil — com o Paraná liderando as exportações de proteína halal. Caso ocorra um alinhamento desses países ao Irã, com sanções informais ao comércio com aliados de Israel, o agronegócio paranaense poderá sofrer boicotes parciais.
3. Risco geopolítico e desvalorização cambial
A escalada de tensões entre Israel e Irã reacende o chamado risco geopolítico sistêmico. Historicamente, em cenários assim, investidores globais migram para ativos considerados seguros — como dólar e ouro — retirando recursos de economias emergentes, como o Brasil.
Essa fuga de capitais tende a:
•Desvalorizar o real frente ao dólar;
•Gerar incertezas no mercado financeiro, com oscilações acentuadas na bolsa de valores;
•Aumentar os custos de importação de tecnologia, fertilizantes, máquinas e insumos industriais — afetando diretamente o setor produtivo paranaense, que depende da importação de tecnologia para maquinário agrícola e produção industrial.
4. Tensões com impactos diplomáticos e comerciais
A posição brasileira frente ao conflito também pode influenciar seu posicionamento global. Uma neutralidade estratégica — como historicamente o Brasil procura manter — será desafiada se o conflito se prolongar e envolver alianças multilaterais.
Além disso, uma possível ofensiva iraniana a aliados ocidentais ou mesmo a Israel poderá causar interrupções nas rotas marítimas, impactando o comércio exterior do Brasil via Canal de Suez — rota fundamental para exportações brasileiras ao Oriente Médio, Norte da África e Ásia.
Considerações finais
O ataque israelense ao Irã é um ponto de inflexão nas dinâmicas de poder no Oriente Médio. Ainda que o conflito pareça regionalizado, suas externalidades são globais e alcançam economias interdependentes como a brasileira. Para o Paraná, a atenção deve recair sobre o agronegócio, os insumos importados e o comportamento do câmbio — que podem sofrer choques simultâneos. Em momentos como este, a inteligência estratégica e o monitoramento constante dos desdobramentos geopolíticos são fundamentais para mitigar riscos e adaptar políticas econômicas, empresariais e comerciais à nova realidade internacional.