O ano letivo de 2025 deve começar com uma mudança significativa: a proibição do uso de celulares em escolas de todo o país. O Senado Federal aprovou o projeto de lei que veta o uso dos aparelhos, inclusive durante recreios e intervalos entre as aulas. Os alunos poderão levar os telefones na mochila, mas só poderão usá-los em atividades pedagógicas autorizadas pela escola; em situações de perigo e para alunos que necessitem de inclusão. A restrição abrange todos os níveis de educação básica. Para passar a valer só falta a sanção do Presidente da República.
A proibição do uso de celulares em escolas vem sendo discutida globalmente e, segundo a Unesco, cerca de 25% dos países do mundo já possuem leis sobre o assunto, como França, Espanha, Grécia, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Itália, Suíça, México, entre outros. Para a psicóloga Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV - programa de educação socioemocional presente em mais de 700 escolas de todo o país- a nova lei é importante, pois o uso dos celulares nas escolas afeta os estudantes em diversos aspectos.
“O celular oferece muitos estímulos em curtos espaços de tempo. Isso acarreta um prejuízo nos estudos pela dificuldade de se concentrar. A atenção fica fragmentada com o uso contínuo e abusivo do aparelho. Além disso, a internet entrega informações facilmente (nem sempre corretas) e isso nos faz esquecer que aprender exige esforço, como disciplina e atenção”, diz, lembrando que o celular estimula uma lógica ditada pela velocidade, quantidade e superficialidade.
Para Renata, proibir os celulares nas escolas é entender que crianças e adolescentes precisam de um limite, que eles não conseguem se impor sozinhos. A psicóloga também afirma que a escola é um espaço de socialização, onde crianças e adolescentes conhecem pessoas e desenvolvem habilidades sociais, como comunicação, escuta, colaboração, entre outras. Essa interação, diz, tem sido prejudicada pelo uso dos celulares.
“Percebemos uma diminuição das interações entre as crianças e adolescentes e, com isso, um aumento de problemas como violência, bullying ou até dificuldade de comunicação”, pontua.
A nova lei propõe ainda que as escolas ofereçam atividades de fala e escuta que estimulem a atenção, a interação e a colaboração entre os alunos. As escolas parceiras do LIV, diz Renata, já têm esse cuidado, que ela considera essencial.
“O LIV garante um espaço e tempo dentro da grade curricular para que sejam desenvolvidas várias habilidades que são prejudicadas pelo uso excessivo do celular, como, por exemplo, a capacidade de espera e de escuta ou de suportar a frustração por não ter algo imediatamente. Trabalhamos a comunicação interpessoal e a colaboração, que são subtraídas nas interações digitais.
Outro ponto importante é o debate sobre a educação digital responsável.
“Debates específicos sobre o uso de telas proporcionam uma educação digital e crítica diante das vivências online, o que também ajuda a prevenir em relação às situações de perigo na internet, como contato com estranhos, golpes e fake news”, finaliza Renata.